Há alguns anos, o surf de alta competição era um mundo relativamente simples. O evento de Pipeline chamava-se Pipemasters, e era o último evento do ano em dezembro. E o segundo título de maior prestígio para o surf, após o WT, era a Triple Crown ou Tríplice Coroa Havaiana.
Tudo isto acabou. A World Surf League, com seu processo revolucionário em curso , decidiu recentemente rebaixar o evento de Haleiwa no Havai, da categoria de Challenger Series, para uma prova das Qualifying Series (circuitos regionais, o antigo QS).
Após ter alterado a prova de Pipeline, que foi durante quase 50 anos o último evento de surf do ano, para passar a ser o primeiro, e de ter perdido o nome de Pipemasters – que é na verdade detido pela marca Vans – a World Surf League anunciou também o fim da Triple Crown of Surfing.
A Triple Crown nasceu em 1983 – há quase 40 anos – criada por Fred Hemmings (campeão do mundo em 1968) e por Randy Rarick, já na altura como resultado de um conflito entre a ASP (percursora da WSL) e Fred Hemmings, promotor das provas havaianas.
O primeiro evento da história da competição foi nada mais, nada menos do que o World Cup of Surfing em Haleiwa, que se realizou a 28 de Novembro de 1983. A Triple Crown, tal como já referido, é considerada o segundo título mais importante do surf, e é atribuído ao surfista que obtém a melhor classificação num conjunto de 3 provas, as chamadas 3 jóias havaianas: Haleiwa, Sunset e Pipeline.
“O principal feedback que recebi dos surfistas é sobre como tornar todo o caminho de qualificação realmente forte – inclusive em nível regional. É importante para nós também garantir que (os surfistas da região do Havai/Tahiti) tenham um caminho regional forte e algumas oportunidades realmente boas para competir no circuito do campeonato.” – Afirmou Jessi Miley-Dyer, diretora da WSL.
No fundo, o argumento apresentado é o de que passando Haleiwa para a categoria de QS regional, a WSL dará mais oportunidades aos surfistas daquela região, que passarão a ser os únicos a poder participar no evento.
Mas na verdade ninguém ganha muito com isto. Nem mesmo os surfistas regionais, que até agora tinham a oportunidade de mostrar o seu surf em competição com os melhores do mundo, agora acabam perdendo.
Em 2022 a prova de Haleiwa foi um verdadeiro sucesso. John John, regressando de uma lesão, venceu com direito a um 10 perfeito na final, em ondas absolutamente épicas, que deixaram os fãs de surf alucinados.
O problema é que com o fim da Triple Crown, quem também perde é o mundo do surf. Tanto os surfistas profissionais, que perderão, em primeiro lugar a oportunidade de competir em Haleiwa (exceto os locais), mas sobretudo porque deixam de ter a hipótese de lutar pela Coroa mais desejada do mundo do surf – a Triple Crown, em formato competitivo. E os fãs, que perdem também a oportunidade de acompanhar um dos eventos competitivos mais icônicos do mundo e a luta pela conquista destas 3 ondas havaianas.
É importante afirmar que desde 2021 a Triple Crown vinha a perder força. Devido à Pandemia, e à proibição de realizar eventos, a organização optou por utilizar um campeonato online, onde os surfistas enviavam vídeos de suas melhores ondas, surfadas naquelas 3 praias havaianas. Em 2022, apesar do regresso das provas a WSL, a Vans (detentora dos direitos da Triple Crown) decidiu manter o formato digital.
Assim, e com esta mudança no evento de Haleiwa, fica então confirmado que não voltaremos a ver tão cedo os nossos surfistas preferidos a disputar a Triple Crown como sempre conhecemos.
Texto original publicado no site surftotal.com editado e atualizado por Surf Alive.