Enfim o CT voltou! Depois de um hiato de três meses e meio e muitas indefinições por conta da pandemia, a WSL retomou o circuito mundial com a primeira das quatro etapas que farão parte da perna australiana, o Rip Curl Cup no pico de Merewether e Newcastle.
A cidade que é berço de lendas do surf como o tetracampeão mundial Mark Richards, além de Luke Egan e Matt Hoy, proporcionou ondas apenas regulares, mas disputas eletrizantes tanto na categoria masculina como na feminina. O primeiro dia foi marcado por ondas pequenas. Muitos fãs ao redor do mundo surpreenderam-se pela organização colocar o evento na água. Mas, mesmo com as condições difíceis, podemos observar grandes apresentações de John John Florence, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo. Eu, particularmente, gosto de ver os tops nesse tipo de onda que é o que temos na maioria dos dias aqui no Brasil. Além da performance, é uma grande oportunidade de ficarmos atentos aos equipamentos utilizados. É a Fórmula 1 do surf!
Dentro deste tema, podemos observar a prancha diferente utilizada por John John Florence. Trata-se da construção chamada de Dark Arts, a mesma utilizada no último Stab In The Dark protagonizado por Taj Burrow e que coroou a Sharpeye do shaper brasileiro Marcio Zouvi, como melhor prancha da disputa. Ítalo Ferreira também utilizou um equipamento diferente do que os profissionais costumam usar, um modelo retrô inspirado nas pranchas dos anos 80, porém com uma abordagem mais moderna. Coincidência ou não, ambos foram destaques nesse dia.
Outro fato que chamou atenção foi a observação feita por Mark Richards durante entrevista aos comentaristas da WSL na língua inglesa. Segundo ele, o pico de Merewether é imprevisível… alguns dias são previstas altas ondas e não se confirmam. Em outros, não se espera nada e o pico apresenta ondas surpreendentes. Foi exatamente o que viria a acontecer…
O evento seguiu com alguns bons momentos do mar e outros nem tanto. As performances porém, sempre em alto nível. Um dos maiores destaques de todo Rip Curl Cup foi a bateria entre o então líder do ranking, John John Florence, e o local e rookie do CT, Morgan Cibilic. Para muitos, seria apenas mais uma bateria protocolar do havaiano, mas o que se viu foi aquilo que quase todos os atletas falam, qualquer um dos top 32 pode vencer uma bateria. Morgan demonstrou todo seu conhecimento do pico e mesmo com o pé esquerdo machucado, fez uma das melhores médias do evento com um surf de borda muito forte e preciso. A “zebra” estava na área e todos os adversários próximos a JJF no ranking, tiveram a chance de se aproximar ou abrir vantagem sobre o vencedor da primeira etapa do CT 2021 em Pipeline.
Entre os brasileiros, Gabriel foi passando suas baterias sem grande destaque (é bom afirmar que ele pegou alguns momentos difíceis do mar e baterias que abriam o dia, onde geralmente os juízes não soltam muito as notas). Filipe, sólido com surf progressivo e bastante borda de frontside, Deivid Silva e seu potente backside, Yago Dora, voando sempre que preciso e Adriano de Souza, voltando a ser o Mineiro de sempre com cavadas lindas e manobras redondas na borda, seguiram no evento. Também teve Ítalo, um animal!!! Desculpem-me usar esse termo, mas é difícil falar dele de outra forma. O campeão mundial de 2019 entra em todas as baterias com uma energia fora do comum. No primeiro round pegou absurdas 17 ondas em 30 minutos! A impressão que fica é de que está num tempo diferente de todos, tanto na atitude como na velocidade do seu surf. Além disso, ele NÃO ERRA AÉREOS! É incrível…. seja de frontside ou backside, o potiguar é tudo o que se quer dizer quando se fala em power surf.
As meninas também surfaram muito com destaque para a australiana da nova geração, Isabella Nichols que chegou até a final e para a tetracampeã mundial Carissa Moore, totalmente fora da curva. Carissa vem elevando o surf feminino a um novo patamar. Seu surf de borda é fluído e muito potente. Além disso, o incrível aéreo que protagonizou no penúltimo dia de evento, impressionou a todos. Tanto público como juízes, que deram a maior nota do evento para a havaiana, 9,90 (por que não 10????). Esta performance a levou ao título da etapa e é consenso entre muitos amantes do esporte que ela venceria muitas baterias se disputasse entre os homens.
Gabriel Medina também merece destaque. Foi seu primeiro evento sem a presença do padrasto e técnico Charlão. Por indicação de Mick Fanning, o bicampeão mundial agora vem sendo assessorado pelo australiano Andy King (que já trabalhou com Julian Wilson e o próprio Fanning). O que se viu foi uma postura diferente na água. Gabriel, que sempre foi conhecido pela sua atitude agressiva nas baterias, desta vez se mostrou mais tranquilo. Não entrou em disputas desnecessárias e foi cirúrgico na escolha das ondas. A bateria contra Adriano de Souza nas quartas e seu aéreo nota 10 (9,70 pelos juízes) nas semis, eliminando o surpreendente “local hero” Morgan Cibilic, foram sensacionais.
Do outro lado da chave, Filipinho eliminou Yago Dora e Conner Coffin, enquanto Ítalo passou por Griffin Colapinto e Deivid Silva. Na semifinal verde e amarela, Toledo não mostrou o surf que estamos acostumados a ver. Por sua vez, Italot continuou voando para tudo que é lado e consolidou sua vitória através dos aéreos.
A final entre Ítalo e Medina dividiu a torcida. O título estaria em boas mãos com qualquer um dos dois, mas desta vez ficou com o furacão Ítalo Ferreira… sinceramente, não consigo imaginar ele perdendo uma bateria na atual fase do seu surf. Quem ganha também somos nós expectadores e o surf brasileiro!
Aloha